sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

CHOVERIA NAQUELA MADRUGADA

CHOVERIA NAQUELA MADRUGADA

                   Praticamente todos os sábados ao cair da tarde dona Beatriz realizava uma velha rotina, ia à casa da amiga de muitos anos, Eugênia, onde encontrava com outros velhos amigos para bater papo e jogar baralho. Esses encontros demoravam horas, geralmente dona Beatriz voltava para sua casa por volta das duas ou três horas da manhã. Junto à ela como companhia, estava sempre sua neta Sylvia, uma garota de mais ou menos oito ou nove anos de idade, que brincava com os netos de  Eugênia até cansar e dormir no tapete ou no sofá da sala. Na cozinha o bate-papo e os jogos rolavam.
                  Naquela época não existia tantas maldades como hoje, as ruas mesmo na madrugada eram tranqüilas, os vizinhos se conheciam e geralmente as vilas de qualquer bairro de São Paulo, representava o lar de uma enorme família. Por isso a volta para casa de dona Beatriz e sua neta Sylvia era segura, a única preocupação talvez fosse o ataque de algum cachorro bravo ou as mudanças de tempo, fato que a natureza até hoje nos oferece. Pois é! Naquele sábado por volta da meia noite, ouve-se relâmpagos e trovoadas, começando  uma fina garôa cair no telhado dando o sinal de fortes chuvas para mais tarde... Dona Beatriz resolve ir para sua casa, iria aproveitar enquanto a chuva forte não vinha. Apesar dos apelos de Eugênia para esperar, dona Beatriz se despede de todos acorda a neta e sai apressada para a rua. Morava perto dali, logo estaria em segurança junto com sua neta. A chuva começa a ficar forte.
                Andam rapidamente! Cai à chuva! Chuva, não! Aquilo é sem dúvida um grande temporal, os raios cortam o céu, os trovões ensurdecem, o vento sopra com violência. Dona Beatriz e sua neta estão molhadas até os ossos. Sylvia se engasga não sabe se respira ou se cospe a água que engole da chuva... Dona Beatriz e a neta andam abraçadas e não vêem a hora de chegar a lugar seco e seguro.
                Nunca pareceu àquelas duas criaturas que a casa onde moravam ficasse tão distante da casa de Eugênia. Ainda bem que asfalto já existia, e os solos das ruas em que pisavam eram asfaltados. Ah! Dona Beatriz havia se esquecido que a viela que encurtava a distância de uma rua a outra era de terra batida; isso quer dizer... Com aquele temporal caindo, como ir por lá? Teriam que acessar a avenida e atingir a rua onde moravam.
Na casa de dona Beatriz, sua filha Marieta anda de um lado para outro, preocupada, seu filho caçula e o mais velho dormem agasalhados confortavelmente em suas camas. A preocupação de Marieta é com sua mãe dona Beatriz e a filha Sylvia. Naquela época não havia celular, só as famílias mais abastadas financeiramente possuíam telefone fixo, telefone público, como nossos atuais e famosos orelhões. Ah! Esses?...Nem projeto havia. Ou seja, não havia como se comunicar com os familiares.  Continuam as duas andando rapidamente.
               Graças a Deus estavam próximas ao portão da casa! Elas olham para a casa como se vissem uma miragem, as luzes estão acesas, abrem o portão e entram. Dona Marieta sai na varanda e desabafa em lágrimas e broncas toda ansiedade pela espera. Existe um ditado que se encaixa perfeitamente nesta narrativa:- ”Depois da tempestade sempre vem à bonança”. (desconheço autor).
               Dona Beatriz e a neta tiram as roupas molhadas e vão tomar um banho quente. Enquanto isso dona Marieta aliviada prepara um gostoso café com leite, biscoitos e bolo para as duas peraltas, dona Beatriz sai do banho se enxuga e veste uma gostosa camisola, coloca um xale nas costas e junto com a neta que também sai do banho se enxuga e veste seu pijaminha de flanela, dirigem-se para a cozinha e tomam aquele delicioso café preparado com tanto amor e carinho por Marieta que agradece a Deus por tudo ter sido só um susto, sem maiores conseqüências.                                   
              Finalmente, avó e neta vão dormir em suas camas embaixo dos cobertores macios, cheirosos e quentinhos. Dormem tranqüilas embaladas pelo barulho da chuva que cai no telhado. Sylvia agradece baixinho pelo amor de sua mãe,de sua avó e também de seus irmãos que dormem alheios a tudo.
              Agora, Sylvia já se tornou uma senhora, talvez tenha a idade que sua avó tinha naquela época. E que apesar do susto que passou ama tempos chuvosos, pois a chuva traz a ela lembranças daquela madrugada tão assustadora, mas compensada pelo amor, carinho e a proteção da avó e da mãe. Cada vez que chove ela sente o cheiro e o sabor daquele café com leite e daqueles biscoitos saboreados com imensa gratidão a Deus pela sua proteção.
              A chuva lhe traz o sentimento de estar amparada pela avó e por sua mãe que já não estão mais neste nível terrestre e dos irmãos que devem estar dormindo tranqüilos ao lado delas.
Dia 17/01/2011
14h. 41minu/tos./   Abraços,

  Lidadri.
                        
 





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